Belém-PA, segunda-feira, 28 de setembro de 2009.
Querida Rita,
São seis horas e oito minutos desta bonita manhã de segunda-feira. Recebo um presente de Deus, abençoando minha chegada à capital paraense com o belo sol que vem nascendo aqui, bem na minha frente. Ainda estou no bonito, e já concluído, Aeroporto Internacional Val-de-Cans, esperando dar a hora de abertura dos órgãos públicos para que eu comece mais uma jornada atrás de parceiros para a NossaCasa de Cultura e Cidadania, uma vez que aí em Macapá a gente vem tentando, desde junho/2008, convencer o Poder Público Estadual, Municipal e os representantes de Órgãos Públicos do Governo Federal a nos apoiar e nada de positivo conseguimos, a não ser com o nosso grande e único parceiro atualmente, o Instituto Chico Mendes do Ministério do Meio Ambiente, onde encontramos verdadeiros servidores públicos, não comissionados, técnicos, qualificados, interessados com a melhoria de vida das comunidades tradicionais para as quais trabalham. É o que chamamos em Brasília de “as ilhas de excelência do serviço público”. Obrigado por vocês existirem, parceiros das Unidades de Conservação da Reserva Extrativista do Rio Cajari, Reserva Biológica do Lago Piratuba, Estação Ecológica do Jari e Parque Tumucumaque.
Na verdade, aí em Macapá, como você tem presenciado, o Poder Público só vêm nos atrapalhando, erguendo muros bem altos, destruindo nossas parcerias conseguidas diretamente em Brasília, sem intervenção de nenhum dos (maus) políticos aí do Amapá, e, colocando muitos espinhos em nossos caminhos e, por último, enviando carros de lixo às nossas paradas culturais, numa tentativa de nos intimidar, impedir e dificultar o nosso trabalho social de estimular a leitura, sobretudo, entre crianças, adolescentes e jovens da zona rural e das periferias das cidades, por meio da literatura, cinema, inclusão digital, teatro, dança, música, brincadeiras, rádio comunitária, fotografia, filmagem. Tudo de forma simples, amena, popular, libertária, sem intelectualismos, com muito respeito, participação, solidariedade, amor, paz, alegria, ensinamentos deixados por nossos antepassados moradores do interior do Estado, nossos povos originários e por pessoas mais famosas que nos ensinaram que é legal fazer uma opção voluntária pela simpliciadade, que ser cidadão é mais importante que ser consumidor, que a ÉTICA é mais importante que a ESTÉTICA.
Continuaremos, cada dia mais, seguindo os ensinamentos e as práticas deixadas por Jesus Cristo, Che, Zumbi, Dom Helder Câmara, Madre Tereza, Irmã Dulce, Paulo Freire, Frei Betto, Leonardo Boff, Dom Pedro Casaldaglia, Chico Mendes, Gandhi, Martin Luther King, Betinho e muitos outros anônimos.
Você acredita que no mesmo vôo vieram o Governador do Estado do Amapá e a primeira dama e Secretária de Mobilização Social que seguiram rumo a Brasília, acho eu??? Olha aí o universo conspirando, mais uma vez (rsss). Puxa Rita, quando vi os dois últimos “ilustres” passageiros entrarem e sentarem nas poltronas da fila de emergência (mais confortáveis) fiquei muito feliz, pois pensei que seria a oportunidade certa para furar o bloqueio dos péssimos assessores dessas autoridades, que não nos deixam falar com eles, seja pessoalmente ou pelo tal do Ofício, que eles tanto gostam de pedir para nos enrolar, na verdade. Assim, nos impedem de mostrar todos os nossos sonhos de transformação social, por meio da educação e da cultura, os quais materializamos em muitos projetos, que já vêm sendo implementados, com sucesso, aí no nosso sofrível Amapá, ajudando a melhorar nosso mundão.
Rita, quando o avião aterrisou em Belém, meu destino, deixei que todos os passageiros descessem e fiquei por último, a fim de manter um pequeno diálogo (2 minutinhos) com "Eles" e, enfim, apresentar-me e, principalmente, também o Movimento NossaCasa e os resultados alcançados nesses últimos 14(catorze) meses de muita luta, mas mágicos para nós, sem apoio do Governo capitaneado por "Ele" e "Ela". Puxa, era oportunidade que tinha para dizer a "Eles" que nós, sociedade civil organizada, sem interferência de qualquer político ou partido político do Amapá, diga-se de passagem, já tínhamos feito muita coisa, imagina se "Eles" nos ajudassem e não jogassem contra, esquecessem um pouco seus interesses pessoais e eleitoreiros e levantassem um pouquinho só seu campo de visão e percebessem que existem muitas pessoas (não somos Entidades, nós TEMOS uma Entidade) que, como nós, não fazem parte das tais “panelinhas”, mas que vêm transformando silenciosamente a sociedade amapaense, sobretudo os mais abandonados do nosso Estado(povos do interior e periferias), aqueles que são sempre esquecidos e discriminados quando se trata de polítcas públicas de educação e cultura, só para falar do nosso campo de atuação.
Queria dizer às duas autoridades máximas do Poder Executivo do Estado que: nós todos, gentes simples, que fomos obrigados pelo próprio Estado, a estudar fora de nossas comunidades(pois lá só existe até o ensino médio, e, olhe lá), mas que, voluntariamente, voltamos para contribuir com a formação de nossos irmãos que por lá ficaram; que, apesar disso, não esquecemos e nem nos envergonhamos jamais de nossas origens/raízes profundas no interior da floresta amazônica; que somente porque estamos sempre juntos e unidos em nossas diversidades, conseguimos disponibilizar aos amapaenses mais excluídos (nossos irmãos da floresta/ribeirinhos/quilombolas/assentados/agroextrativistas) mais de 14.000 (catorze mil) livros, acomodados em 58 (cinquenta e oito) bibliotecas comunitárias (Projeto Rede de Bibliotecas Comunitárias Pororoca das Letras), em 10 (dez) municípios do Estado e na Terra Indígena Wajãpi; que conseguimos retomar no Amapá o Programa Arca das Letras do Ministério do Desenvolvimento Agrário do Governo Federal, “esquecido” pelos órgãos rurais do Estado desde 2006, trazendo 30(trinta) bibliotecas rurais, entregues em abril e maio deste ano; que solicitamos diretamente em Brasília a vinda para o Amapá do Programa Territórios Digitais (inclusão digital para a zona rural), tendo inclusive conseguido já um Telecentro (computador + internet banda larga) para a comunidade ribeirinha de Pedra Preta em Serra do Navio; solicitamos e conseguimos o Programa Cine Mais Cultura do Ministério da Cultura também para a comunidade de Pedra Preta, já tendo sido, inclusive, recentemente treinados dois jovens da comunidade, em Belém, os quais serão responsáveis pela exibição de mais de 100 (cem) filmes nacionais durante um ano na comunidade; inscrevemos, recentemente, em concurso do Ministério da Cultura dois representantes da Cultura Popular do Amapá, esquecidos pelos órgãos de cultura estaduais, a Dona Castorina de Macapá (benzedeira) e o Mestre Amaro, cantor popular de samba de roda lá da Reserva Extrativista do Rio Cajari; que fomos pré-selecionados no último edital para Ponto de Cultura do Ministério da Cultura do Governo Federal, executado em parceira com a Secretaria de Estado de Cultura, que, por sinal, desde abril/2009, ainda não conseguiu analisar os projetos selecionados e assim liberar as entidades para a assinatura do tão esperado convênio de R$160.000 (cento e sessenta mil reais), valor este que, inclusive, nos outros cantos do país é de R$185.000,00, mas que foi glosado pelo Governo do Estado do Amapá, sem sabermos o motivo disso, em que pese a evidente carência, mas urgente e necessária, política cultural para o Estado, sobretudo para os que, como nós, preocupam-se com a cultura de raiz, feita nas nossas próprias comunidades rurais/tradicionais do no nosso Amapá, que raramente têm oportunidade de mostrar seu talento nos poucos eventos culturais que existem na cidade, ante o preconceito que sofrem, às vezes nem disfarçado.
Enfim Rita, minha querida irmãzinha dessa nossa longa caminhada, rumo ao (nosso) interior (do Estado do Amapá), a fim de gerar as verdadeiras e necessárias transformações sociais que tanto precisamos, o mundo todo. Já são exatamente 08:00 horas da manhã, os órgãos públicos já devem estar começando a abrir aqui em Belém. Tenho que partir, continuar a caminhada, em busca de parceiros, e não TRAparceiros, que patrocinem os nossos sonhos. Os mesmos sonhos que tantos aí no nosso Amapá vêm tentando jogar no caminhão do lixo, como fez a Prefeitura de Macapá na primeira Parada Cultural da NossaCasa, inaugurada em 03/09/3009, localizada na Av. Ernestino Borges, entre Ruas General Rondon e Eliezer Levi, exatamente no dia 16/09/2009 por volta das 23:00 horas, e, que continua fazendo, todas as últimas noites, desde o dia 21/09/2009, com a nossa segunda Parada Cultural, localizada em frente à Prefeitura, evidenciando a total falta de educação e cultura dos que estão à frente da Administração Municipal, os quais vêm se negando a dialogar, a nos apoiar e, principalmente, a responder positivamente aos nossos apelos para que pare com essa barbaridade contra os nossos leitores(população carente), nossos doadores, os quais já emprestaram e doaram muitos livros, o que mostra que a idéia foi aprovada pelo público alvo, que é quem nos interessa.
Por certo, mais uma vez a Parada Cultural da NossaCasa em frente à Prefeitura deve ter sido “limpa” por algum gari, ontem à noite (27/09). Mas, não nos abalemos por essa atitude antidemocrática, previsível, pueril e tão pequena vinda da Prefeitura. A nossa resistência civil, pacífica, cultural e educativa continuará, tão logo eu retorne a Macapá, em meados de outubro, após passar duas semanas em Brasília.
Assim, peço-lhe que, por gentileza, descanse bastante durante a minha ausência, que você possa se religar ao nosso Universo, curtindo seus familiares, a natureza, seus amigos, seus hobbys e, assim, vivencie e aproxime-se, a cada dia, de Deus. Por certo, a Parada Cultural da NossaCasa em frente à Prefeitura ficará vazia de livros/revistas durante a nossa ausência. Mas, saiba você que ela não morreu e nem morrerá. Essa Parada Cultural e a da Av. Ernestino Borges representam, a partir de hoje, o símbolo da resistência e da existência do Movimento NossaCasa e, espero, também da sociedade amapaense ou, pelo menos, dos amantes da leitura.
Nossos corações, mentes e consciências estão tranqüilos, pois estamos fazendo a nossa parte, neste mundão de possibilidades. Passamos toda a semana incentivando a leitura nas duas Paradas Culturais, transformado a longa espera dos passageiros de ônibus (pessoas humildes, sem dinheiro para comprar livros/revistas) em momentos mais humanos, amorosos e agradáveis. E, também, denunciado essa arbitrariedade na Rádio Comunitária NossaCasa, à imprensa, ao Dr. João Bosco da Justiça Federal, à Câmara de Vereadores (durante audiência pública sobre Educação em Direitos Humanos, na última quinta-feira, com a presença da Secretária Municipal de Educação e vereadores da Comissão), e, ainda assim, não conseguimos ter a divulgação necessária na imprensa a ponto de estimular os moradores de Macapá a continuarem doando e deixando nas duas Paradas Culturais os livros/revistas que não lhes serve mais, pois já leram e adquiriram o conhecimento que precisavam. E, agora, o conhecimento tem que continuar circulando, para o maior número de pessoas, pois só assim viveremos numa cidade e num mundo mais humano, mais amoroso e solidário.
Fico por aqui, já são 08:38 horas, vou colocar esta carta nos Correios, já que te deixei sem computador e internet e você está, como muitos de nossos irmãos amapaenses, novamente excluída digitalmente. Mas, essa questão, merece uma outra carta, que te enviarei em breve....
Beijos e abraços fraternos,
Do seu amigo das Letras, da Vida, do Universo, da Solidariedade, do Voluntariado,
Jonas Banhos
P.S.: Ah, ia esquecendo, não consegui falar com o Governador e a primeira dama, pois Ela estava com um tampão nos olhos e Ele de olhos bem fechados, na confortável poltrona da TAM, vôo JJ 3449, de 28/09/2009. Talvez estivessem em um sono profundo.... Mas, para não “perder a viagem”, e eu nunca perco, como você sabe (rsss), deixei o cartão de visitas do Movimento NossaCasa, apenas como lembrança, para que um dia (muito em breve, já que as eleições estão chegando) Eles se lembrem que estivemos muito próximos, apesar de todas as barreiras erguidas e mantidas pelos que os cercam... fuuuuiiiiiiiiii, mas voltarei em breve, se cuide aí!!!!!!!!!! 08:49 horas.
Disque Biblioteca Comunitária : 8129 1837 (Jonas Banhos)/ 9139 0464 (Rita de Cácia)
Conheça o Movimento NossaCasa:
http://frentepolonorte.com/colunas/paulo-zab/nossa-casa-de-cultura-e-cidadania
http://www.youtube.com/user/NossaCasadeCultura#play/all
http://www.orkut.com.br/Main#Album?uid=4954502125303288669&aid=1252061165 http://www.jdia.com.br/pagina.phppg=exibir_not&idnoticia=10583
http://www.redenoticia.com.br/noticia/?p=3323
http://www.jdia.com.br/pagina.php?pg=exibir_not&idnoticia=1719
www.nossacasaap.com.br
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