Car@ amig@,
Compartilho com você mais um artigo-reflexão, fruto da minha pesquisa e convivência nas comunidades ribeirinhas da Amazônia nos últimos 21 (vinte e um meses).
Boa leitura!!!
Abraços fraternos,
Jonas Banhos
Cidadão do Mundo
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Aniversário de Macapá: comemorar o quê?
O Movimento NossaCasa tem como proposta principal ocupar com equipamentos culturais os espaços vazios ou subutilizados, sejam eles “públicos” (ruas, praças, prédios, paradas de ônibus, feiras, aeroportos, portos, agências bancárias, abrigos, presídios, asilos, teatros) ou privados (centros comunitários, casas d@s moradores, supermercados, lojas), em comunidades ribeirinhas/tradicionais da Amazônia, em primeiro lugar, e, também nas nossas inchadas cidades, de forma pacífica, amorosa, colocando em evidência a nossa rica e diversa cultura amazônica, feita por aquel@s que não conseguem acessar democraticamente os recursos públicos e nem têm vez e muito menos voz nos meios de comunicação: nós, povão, artistas populares, de rua, de comunidades ribeirinhas e das periferias.
Foi dentro desse contexto, que nos dias 29 e 30/01/2010 resolvemos abraçar amorosamente, cuidar e dar o ponta pé inicial da apropriação cultural popular da nossa Praça Zagury, reinaugurada depois de longos anos de abandono. Fizemos da frente da nossa amada, mas, maltratada cidade de Macapá, por algumas horas, nosso Porto de Cultura, atracando a nossa simples, lúdica, itinerante e mística BArca das Letras, trazendo o alimento para a alma aos que por lá passeavam, caminhavam e trabalhavam. E ali mesmo, bem em frente ao nosso caudoloso Rio Amazonas erguemos, com a participação de crianças, adolescentes, jovens e adultos a NossaCasa de Cultura e Cidadania Amazônia, numa evidente demonstração de que ainda é sim possível construir coletivamente, voluntariamente, um mundo melhor para tod@s.
Nesses primeiros dias que a BArca das Letras saiu “econavegando” e incentivando a leitura, sobretudo de mundo (como nos ensinou Paulo Freire) pelas ruas de Macapá, foi muito gostoso percebermos o ar de surpresa de uns, de espanto de outr@s, de encantamento, indentificação e alegria de muit@s com a nossa barquinha, que foi adquirida por apenas quinhentos reais, recursos tirado do meu próprio bolso, uma vez que não conseguimos, ainda, furar o cerco do necessário apadrinhamento político para acessar os recursos públicos (portanto, meu, seu e de toda a nação brasileira), inclusive os do Orçamento Geral da União (pasmem!!!) e/ou até mesmo de empresários locais socialmente insensíveis para apoiar a cultura popular, talvez por não querer colar sua “marca chique” ao “povão”, ao Brasil de baixo, mas patrocinando grandiosos eventos. Uma questão de opção, apenas: opressor ou oprimido???
Falando nisso, só para ilustrar com um exemplo, alguém aí poderia socializar a informação de quanto custou para o Governo do Estado do Amapá (Secretaria de Cultura) a dupla sertaneja global que foi a atração principal da recente Expofeira/2009? E quanto foi o cachê para os artistas populares/grupos tradicionais locais? Ah, falando em falta de transparência, alguém também já poderia aproveitar e informar quando será divulgado na internet o resultado final dos quinze selecionados no Edital para Pontos de Cultura do Ministério da Cultura (convênio com Secretaria de Cultura/AP) para receber R$160.000,00 para aplicar em três anos (no Pará, o mesmo Edital selecionou Pontos de Cultura paraenses para receber R$180.000,00. A enorme diferença, para nossa realidade amazônica, de R$20.000,00 evidencia exatamente o tratamento dado à cultura popular nos dois Estados amazônicos vizinhos-irmãos). Para se ter idéia, com R$20.000,00, o Movimento NossaCasa montaria duas Casas de Cultura e Cidadania, simples, adequadas à realidade miserável, abandonada e invisível socialmente da Amazônia rural, contendo biblioteca, telecentro, videoteca, brinquedoteca, Oficinas e Palestras e Horta Agroecológica.
Mas, puxa, você acredita que apesar desses fatos desagradáveis (competição excessiva por poder: político, econômico, meios de comunicação, sexual), fruto desse sistema irracional capitalista (mundo-cão) que somos obrigados a (con)viver diariamente, jamais concordar e muito menos participar, quando estamos nos centros urbanos, que sugam a energia que nos liga a nossos ancestrais, ainda hoje, quando estou na NossaCasa Amazônia, à beira do Rio Macacoari, ainda me pego delirando, sonhando com o dia em que teremos um convênio com o Governo Federal ou recursos de uma entidade internacional ou a doação generosa de uma pessoa ou empresário (que não nos peça para votar em A, B ou C, sobretudo) para multiplicarmos nossas ações aqui no Haiti amazônico amapaense-brasileiro. E aí sim, continuar seguindo o caminho da Dra. Zilda Arns e muit@s outr@s anônim@s, privilegiando sempre os produtos da economia solidária, representada por noss@s artesãos locais, que produzem nossos brinquedos amazônicos de miriti, colares com sementes da floresta e até a nossa BArca das Letras, que estava sendo utilizada como lanchonete (levando o alimento para o corpo aos mais humildes) pelo S. Manoel Silva, um ribeirinho de Breves e exímio artesão da marcenaria, mas, há dezessete anos morador da periferia do município de Santana/AP, vítima do freqüente e histórico êxodo rural imposto às nossas comunidades invisíveis ribeirinhas, em face da mais que evidente ausência das mínimas condições (políticas públicas) para educar @s filh@s & net@s dos rios da NossaCasa Amazônia. Engraçado isso, sempre encontro na minha caminhada, um ribeirinho-urbano, “perdido” num centro urbano, fazendo “bicos”, subempregado, alimentando o sistema escravista-consumista atual. E aí me vem à lembrança algumas perguntas simples: se tod@s viermos morar em cidades, quem produzirá o alimento para saciar a fome de comida??? Quem manterá a relação afetiva, cuidadosa e respeitosa com a floresta amazônica, responsável, ainda, por manter boa parte dela em pé, resistindo à fúria insana do agronegócio, mineradoras, indústria madereira, pecuária em larga escala, caça e pesca predatória??? Quem levará adiante a cultura nascida dentro da floresta, que há séculos vem sendo passada de mãe/pai para filh@ (mestres da cultura popular)???
E como não poderia deixar de acontecer, a Rádio Móvel NossaCasa Amazônia marcou presença, de forma irreverente, percebendo o “todo ambiente”, ouvindo sugestões e reclamações em “off”, organizando abaixo-assinado pró internet banda larga no Amapá, entrevistando e dando voz aos: passantes; famos@s corredor@s/caminhantes noturnos; freqüentadores dos “novos e elitizados” bares da Beira Rio; e, principalmente, aos anônim@s, excluíd@s & “invisíveis sociais” (indígenas; riberinhos; crianças & adolescentes-trabalhadoras-engraxates-vendedoras; flanelinhas & adult@s vendedores móveis, estes últimos, injusta-abusiva-e-autoritariamente impedid@s de trabalhar. Sinceramente, nunca vi esse tipo de repressão e intimidação ao direito de ir e vir em uma praça pública em nenhuma outra capital do Brasil, país dito democrático (talvez o Amapá já não faça mais parte do Brasil e nem ficamos sabendo, afinal aqui em Macapá também nem tem internet banda larga né, para a gente ter acesso a outros veículos de comunicação, livres do julgo de polític@s tucujus) e muito menos do mundo, por onde já tive a sorte e oportunidade de caminhar livremente. Não vi nem mesmo um pipoqueiro por lá. Estava tudo “muito limpo, chato e sem nenhuma graça”, dentro dos “padrões estéticos e culturais dos donos do poder de plantão”. Agora sim, entendi de forma cristalina o motivo pelo qual foi ordenada pela Prefeitura de Macapá, em setembro/2009, a “limpeza” (= jogar livros no caminhão de lixo) da parada de ônibus que abrigava a primeira Parada Cultural da NossaCasa (biblioteca comunitária), uma idéia de sucesso, copiada da Capital Federal, Brasília, e adptada e implantada em Macapá.
Afora esse fato, foi muito legal e emocionante ver e ouvir a ansiedade das crianças & adolescentes (pobres e ricas juntinhas, compartilhando brinquedos, sonhos, estórias) apropriando-se e compartilhando saberes, fazeres, livros, brinquedos, artesanatos, instrumentos musicais e, por fim, a Rádio NossaCasa Amazônia, assumindo, inclusive, por várias vezes, o controle do megafone comunitário, lendo, puxando um ladrão do marabaixo, candidatando-se a voluntário para ajudar a atrair mais gente para “dentro” da NossaCasa Amazônia e, pasmem, até para fazer um “documentário” e ficar atualizando o “sítio” (www.nossacasaap.com.br) da NossaCasa de Cultura e Cidadania Amazônia, defasado desde agosto/2009, em razão da falta de recursos financeiros para a manutenção, nos enchendo de esperança de que ainda há saída para este mundão.
Assim, sem (a maioria) perceber, criamos, em praça pública, as condições ambientais necessárias para fazer um debate qualificado (sem partidarismos, nem ataques baixos, pessoais, a desviar nossa atenção do que nos interessa: Políticas verdadeiramente Públicas, como é o caso da NossaCasa: livros, internet banda larga, vídeos educativos, agroecologia, brinquedos educativos, oficinas e palestras, comunicação comunitária, educação ambiental e popular), numa verdadeira roda de cidadania, contribuindo para a formação do novo cidadão amazônico do século XXI.
Enfim, meus amig@s, esperamos que tenham gostado de ser envolvid@s nessa corrente positiva, solidária, com a ajuda de noss@s ancestrais e do nosso padroeiro São José, @s quais estavam a nos observar de dentro do nosso rio Amazonas, iluminado por uma linda lua, espiritualizando nossa grande onda por “Mais Cultura” para a Amazônia amapaense: a Pororoca Cultural e Cidadã, originária de nossas comunidades ribeirinhas e tradicionais amazônicas, localizadas em Unidades de Conservação e/ou entorno, a qual vem em direção ao centro do poder decisório do Amapá e do Brasil, esperançosa de mudar o estado atual da arte.
Esta verdadeira Pororoca Cultural e Cidadã vem sendo, insistente e aguerridamente, impulsionada pelos ativistas da NossaCasa Amazônia, desde abril/2008, de forma simples, livre, independente, com recursos próprios e com muita autonomia. É exatamente e, “só isso”, o que queremos: um toró de idéias e efetivas ações (falar + ação= falação), vindas das ruas/comunidades (e, não APENAS dos dispendiosos gabinetes bem refrigerados), com propostas exeqüíveis e baratas para melhorar a nossa (de tod@s nós, oprimidos e opressores!!!) qualidade de vida, para que nos orgulhemos e tenhamos bons e duradouros motivos para, aí sim, comemorar, ano após ano, o aniversário de Macapá, porque do jeito que está, será que temos o que comemorar neste dia 4 de fevereiro de 2010 em Macapá?
Agradecemos pela participação de tod@s e pela solidariedade dos que contribuíram financeiramente no Balaio da Esmola Cultural para ajudar a viabilizar o evento (lápis de cera, pilha para megafone, artesanatos, papel etc) e pelas águas e refrigerantes enviados aos ativistas culturais voluntári@s da NossaCasa. Estaremos novamente na Praça Zagury dia 08/02/2010 (segunda-feira), a partir das 17:00 hs, com a BArca das Letras. Portanto, junte-se a nós, traga sua arte, suas idéias, opiniões e participe dessa onda, a nossa Pororoca Cultural e Cidadã. Venha e traga as crianças, que representam o futuro e a esperança de uma Macapá melhor e de um Brasil nota mil.
Veja fotos em meu blog www.jonasbanhosap.blogspot.com.
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